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domingo, 25 de março de 2012

A influência da TV na sexualidade da criança

A influência da TV na sexualidade da criança

A mídia, e no caso especificamente a TV, exerce uma influência significativa no cotidiano de todos nós. Em relação às crianças e jovens, então, nem se fala, principalmente por estarem na fase de formação dos valores, conceitos, modelos de conduta e comportamento sexual.


Os pais, sempre que perguntamos a respeito, reclamam da programação da televisão, considerando-as impróprias para os seus filhos. Se antes era o apelo sexual que mais incomodava, hoje é a violência.

E nessa educação dos pequenos, pai e mãe não estão sabendo lidar muito bem com o seu papel.

A televisão pode, sim, estar contribuindo positivamente ou negativamente para a educação do seu filho. Mas você contribui muito mais: a vivência que seu menino ou menina tem com você, todo o processo de identificação, a construção das “bases afetivas” exercem influências mais profundas do que aquilo que passa na televisão. Não quero dizer que essa máquina poderosa de imagem e som não influencia. Mas não podemos ficar jogando a culpa toda na telinha.

Por um lado, sabemos que a exposição precoce da criança a cenas de sexo e violência, de forma degradante, pornográfica e sem nenhum critério, pode interferir no seu desenvolvimento emocional. A criança armazena todo tipo de informação que recebe. Por isso, devemos ter qualidade nessa informação. Ninguém quer seu filhinho de 5 anos com cenas de sexo e violência “armazenadas” em sua cabeça, não é?

Por outro lado, temos pais que não estão sabendo zelar pelo que seus filhos estão assistindo. A televisão passou, então, a ser uma eficiente “babá eletrônica”.

Segundo dados do IBOPE, a criança fica, em média, duas horas e meia por dia diante da TV. É muito tempo, se você pensar que a maioria delas fica ali sozinha, sem a participação de pai e mãe.

As crianças mais novas não conseguem decodificar as mudanças súbitas de ângulos, os efeitos visuais e de aproximação e afastamento da câmera. Também não percebe que o desenho que está assistindo parou e que já está passando um comercial. Na sua imaginação, tudo faz parte de um só programa, que está mandando ela comprar. Por isso, nos primeiros anos de vida, é importante que os pais estejam ao lado do filho. Esse é um momento precioso para conversar e, mesmo lentamente (ir aprofundando de acordo com a idade), desenvolver o senso crítico, traduzindo um pouco esse mundo da fantasia (o que é mentira e faz parte do sonho e o que é verdade) e, ainda quando pequeno, educar seu filho a entender e respeitar as diferenças, tendo como gancho os múltiplos programas de TV que estigmatizam, rotulam e tratam o ser humano com preconceito (como vemos em alguns programas de humor). Então, é transformar o que você vê em algo benéfico para a educação do seu filho.

Exemplo:

- Olha filho: o que você esta vendo é verdade, acontece mesmo em alguns lugares. Mas aqui em casa a gente não concorda. Porque eu e seu pai (ou eu e sua mãe) acreditamos que as pessoas devem ser tratadas com respeito e sem discriminação. E, na casa de muitos amiguinhos seus, também pensam assim como a gente.

Mas se você não está perto, aquela imagem e mensagem é que ficam. Aí a TV estará sendo mais forte do que a educação que você dá em casa. E chega uma hora que é seu papel assumir o controle do controle remoto.

A televisão é o primeiro e maior contato das pessoas com o mundo externo

Se uma criança, antes de completar 5 anos, tiver o hábito de ficar em frente a um aparelho de TV, terá visto aproximadamente 1.000 comerciais. Em menos de 5 minutos, já terá “viajado” pelo mundo e estado em contato com diferentes formas de linguagem. Portanto, um excelente meio de educação, desde que utilizado com esse fim.

Algumas dicas para pai e mãe:

1- Horário: defina o horário para seu filho ver televisão. É importante que essas regras sejam bem definidas. E a televisão não pode ser a principal "programação" dele.

2- Converse sobre o que ele está vendo de forma mais presencial: caso você trabalhe fora, além de procurar saber como foi o dia dele, o que fez, com quem brincou, etc., pergunte se ele viu televisão. Diante da afirmativa, procure saber o que viu - questione, peça a opinião dele e desenvolva no seu filho, desde pequeno, uma opiniçao sobre o ue está assistindo e não que seja um mero espectador que assimila tudo sem questionar.

3- Definir o que ele pode ver: com criança pequena, é papel de pai e mãe definir a programação que o filho poderá ver, de acordo com a faixa etária.

4- Proporcione outra opção de lazer: a televisão não pode ser a única "distração" do seu filho. Ele deve ter outras opções de lazer, como:

- jogos educativos;

- brincadeiras com os amiguinhos (que permite desde pequeno a interação com o grupo);

- brincadeiras com trabalho corporal (para proporcionar habilidade e movimento);

- esporte;

- trabalho de arte e pintura, música, teatro ou o que for de interesse.

Claro que não me refiro a todas as possibilidades de lazer. Nem é adequado e educativamente desaconselhável. Mas cada família, dentro da disponibilidade de tempo e recursos, interesse da criança e adequação à faixa etária, que encaminhe seu filho a um mundo que não seja só o apresentado pela televisão.

Muitas vezes a TV passa informações, conceitos e “verdades” diferentes do que pai e mãe ensinam em casa. Talvez esse seja um bom momento de você conversar com seu filho que em casa vocês pensam assim, mas em outras famílias o pensamento pode ser outro.

O que é mais importante nisso tudo? É que, com essa abertura, certamente quando alguma mensagem for confusa ou eles quiserem contar o que viram, vão se reportar aos pais ou alguém de confiança.

(Esse texto é parte de um dos capítulos do livro Sexo: como orientar seu filho, de Marcos Ribeiro, editado pela Editora Planeta, um dos maiores sucessos editorais dos últimos meses, que pai e mãe não podem deixar de ler).

Marcos Ribeiro - Autor desse texto, é sexólogo e Consultor em Sexualidade para o Ministério da Saúde, Fundação Roberto Marinho e outras instituições públicas e privadas. Coordenador Geral da ONG Centro de Orientação e Educação Sexual (CORES). Autor de livros de educação sexual, entre eles, o recém lançado Sexo: como orientar seu filho (Editora Planeta), um guia que todo pai e mãe não podem deixar de ler.
 


"Criança precisa brincar!!!"