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quinta-feira, 29 de março de 2012

teatro de páscoa

Fuzuê no Galinheiro

ATO I


(narrador)

              O galinheiro do sítio Bela Vista era grande e todo cercado de tela. Na parte de fora, várias laranjeiras faziam sombra, deixando a água dos bebedouros sempre fresquinha. A casinha onde ficavam os poleiros e os ninhos era feita de madeira, com telhado de telhas de barro, que tornavam o ambiente aconchegante.
Costumava ser um lugar tranqüilo. Mas essa tranqüilidade foi abalada no dia em que as galinhas Caipiras encontraram, no meio dos sacos de ração, alguns jornais velhos. Um deles mostrava um coelho fazendo propaganda de ovos de Páscoa. Ah! Ficaram inconformadas!

(Caipiras)

- Vejam este anúncio! Só dá coelho na Páscoa.

(Narrador)

As galinhas ficaram agitadas. Andavam de um lado para o outro, soltando penachos pelo ar. Cacarejavam assim:

(galinhas)

Có, có, có, có,
Có, có, có, có.
Justiça para as galinhas!
Estamos vivendo um drama.
Nós botamos ovos, e o coelho leva a fama!
Cocococodé! Cocococodé!
Queremos mais respeito!
Desse jeito não dá pé!

(Carijó)

- E as músicas que costumam cantar nessa época, vocês já ouviram?

Coelhinho da Páscoa, Que trazes pra min ?
Um ovo, dois ovos, três ovos, assim.

- Ouviram? Ovos! Ovos! Ah! E coelho bota ovo?

(galinhas)

                            Cocococodé! Cocococodé!
Queremos mais respeito!
Desse jeito não dá pé!
- Ficaria mais justo se fosse assim:
Galinha da Páscoa, que trazes pra mim?
                                                                                                  (aí, sim!)
Um ovo, dois ovos, três ovos, assim!

(narrador)

              D´Angolas, que estava comendo milho na gamela, também reclamaram:
(D´Angolas)

              - Tô fraca! Tô fraca! Tô fraca! E quando falam da gente... ouçam:
                            A galinha magricela.
                            E bota um, e bota dois e bota três.
                            A galinha magricela...
                            Pode?!

(Legornes)

-Galinha magricela?! Hã! Vou para o bebedouro. Preciso tomar um pouco de água para me acalmar.

(Carijó)

-Tenho algo a propor, companheiras.
Ouçam! Vamos fazer greve! Vamos parar de botar ovos!

(galinhas)

-Concordamos! É isso mesmo!

(Caipiras)

-Só assim irão nos valorizar. Chega de exploração!

(Polacas)

-Não sei, não... Parar de botar ovos... Isso vai dar um quiproquó...

(Narrador)

Resolvidas, as galinhas passaram o dia no maior tititi, quero dizer, no maior cococó.

ATO II

(Narrador)

No final da tarde, as galinhas foram ciscar no terreiro, perto das laranjeiras. Algumas bicavam laranjas maduras caídas no chão, outras, pequenos grãos.
              Dona Filó, a cozinheira, entrou no galinheiro para recolher os ovos. Passou de ninho em ninho, mas de ovo, nem sinal. Só o que viu foi muita palha espalhada. Pegou a vassoura que estava encostada num canto e, resmungando, varreu o chão de cimento.

(Dona Filó)

-Ué! O que deu nessas galinhas?
O que está acontecendo por aqui?
Está chegando a Páscoa.
Preciso de ingredientes pra fazer meus quitutes e deixar todos contentes.
Procurei em todos os ninhos, mas ovo que é bom, nada!
O que há com essas galinhas?
Já estou preocupada.
Preocupada, é claro que sim.
Se não tiver ovos, o que será de mim?
(Narrador)

Lá do terreiro, as galinhas ouviram tudo.

(carijó)

-Ouviram isso? Agora, vão nos dar valor!

(Narrador)

Os galos não estava se sentindo muito à vontade com essa situação. Eles não foram consultados sobre a greve. Procuraram se consolar com seus amigos.

(Galos)

Cococoricó!
Todo mundo sabe, somos os chefes do terreiro.
Se queriam entrar em greve, teriam que nos avisar primeiro.

(galo, peru e pato)

Cococoricó!
Glu! Glu! Glu!
Quá! Quá! Quá!

(Galos)

Greve no galinheiro.
Que história mais maluca!
Acho que essas galinhas ficaram lelés da cuca.

(Narrador)

Ouvindo isso, as galinhas não deixaram por menos.

(Galinhas)

Era só o que faltava, pedir-lhe opinião.
Galo nem bota ovo...
Essa não! Essa não!
Cocococodé!
Queremos mais respeito!
Desse jeito não dá pé!

(Polacas)

Isso vai dar um quiproquó...

ATO III

(narrador)
Dona Filó voltou no dia seguinte. Procurou no ninho da Carijó, nada! No ninho da Caipira, nada! Até no ninho da garnisé estava vazio.
(Dona Filó)

-Nossa Senhora! Sem ovos, o que vou fazer?
Bombinhas recheadas, tortinhas caramelizadas.
Muito doce pra criançada!
Em fatias ou às colheradas, deixam as boquinhas bem lambuzadas.
São quitutes de todo jeito: bolos, pudins e empadinhas.
Mas sem ovos, nada feito.
Será que deu preguiça nas galinhas/
Não tem ovo nem pra broa.
Só faltam dois dias pra Páscoa.
Não tem ovo nem pra broa.
Vou correndo avisar a patroa.

(polacas)

-Isso vai dar um quiproquó...

(carijó)

-Cala esse bico, Polaca!

(Polacas)

-É que eu não estou conseguindo segurar...
Có, có, có! Có, có, có!
Isso que é sofrimento.
Estou sentindo que vou botar um ovo a qualquer momento.
Có, có, có! Có, có, có!
Acho que vai escorregar...

(Galinhas)

Pois trate de segurar!!


ATO IV

(Narrador)

A notícia da greve se espalhou e chegou às enormes orelhas dos coelhos Joca e Juca, que resolveram ver de perto o que estava acontecendo.

(Legornes)

-Olhem só quem está chegando!
São os folgados dos coelhos.
Tem olhos vermelhos e pêlo branquinho.

(Caipiras)

Hunf! Às vezes cinzentos ou até malhadinhos.




(Legornes)

Na Páscoa ficam importantes e por todos são lembrados.
Vocês acham isso certo?

(Galinhas)

Não achamos! Está errado!
De ovo, não entende nada, mas, agora, só se fala deles.
Isso é uma injustiça!

(Galinhas)

Vamos falar com eles!

(Juca)

-O que está acontecendo? Ouvi umas coisas que custei a acreditar. Acho que vocês estão mal informadas.

(Carijó)

-Mal informadas? Pois, sim, senhores Símbolo da Páscoa!

(Joca )

-Sou apenas um dos símbolos. Represento a fertilidade. Afinal, nós coelhos nos reproduzimos em grande quantidade. Vocês já viram quantos filhotinhos nascem de uma só coelha?

(Galinhas)

-Hum...

(Juca)

-E tem mais. Há muitos e muitos anos, na Páscoa, costumava-se presentear as pessoas com ovos de galinha cozidos e pintados com tintas coloridas.

(Carijó)

-Quer dizer que, antigamente, os ovos de Páscoa eram de verdade?

(Joca)

-Isso mesmo! Com o passar dos anos é que foram substituídos por ovos de chocolate, que, junto com as tortas, bolos e biscoitos, fazem a festa da Páscoa.

(Legornes)

-Cococodé... Cococodé...Não sabíamos de nada disso.

(Joca e Juca)

-Vamos, acabem logo com essa greve.
Botem seus preciosos ovos. A maioria das receitas precisa deles para ficar gostosa.

(Narrador)
Imediatamente as galinhas se reuniram e resolveram acabar com a greve.

(carijó)

Essa foi, seus Coelhos, uma boa explicação.
Resolvemos botar ovos e acabar com a confusão.
É hora de voltar pros ninhos!
Quero ver quem bota primeiro!
Somos também importantes nesta data e o ano inteiro!

(Narrador)
Polacas não esperaram nem mais um minuto. Foram as primeiras.

(Polacas)
- Cocococodééé! Cocococodééé! Aqui está a minha contribuição. Ufa!

(Narrador)

Naquele dia, a produção de ovos foi fantástica.
E a festa da Páscoa...um sucesso!

(galos)
Cococoricó! Cococoricó!

(Perus)
Glu! Glu! Glu!

(Patos)
Quá! Quá! Quá!

(Galinhas)
Cocococodé!
Cocococodé!
Cocococodé!

(Todos)

Acabou-se o fuzuê!
Todos nós desejamos Boa Páscoa pra vocês!